sábado, 6 de agosto de 2011

De onde surgiu a Umbanda?

A Umbanda, sob a ótica do C.E.C.S.J.B, veio sendo trabalhada desde o primeiro sincretismo da religião dos negros africanos com elementos católicos, com a simples finalidade de dar a possibilidade dos negros manterem seus cultos de forma disfarçada. Nesse momento, os Santos Católicos se tornaram o primeiro símbolo do Cristianismo na religião negra no Brasil, e o que nasceu apenas para disfarçar algo que já existia deu passagem para uma verdadeira mudança na forma de pensar e sentir o Sagrado. 

Há vários relatos de atuação de Caboclos e Pretos Velhos nos Candomblés e nas Macumbas desde então, mas a organização da Umbanda como religião, distinta das vertentes religiosas já existentes, aconteceu quando o médium Zélio Fernandino de Moraes recebeu pela primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que proclamou a Umbanda como sendo uma religião Espiritualista e Cristã.

A história de Zélio de Moraes é muito interessante. Em 1908, o jovem Zélio Fernandino de Morais estava com 17 anos e havia concluído propedêutico (equivalente ao segundo grau) na Escola Naval, quando fatos estranhos começaram a lhe acontecer. Ora ele assumia a estranha postura de um velho, falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa e que havia vivido em outra época, e em outras ocasiões, sua forma física lembrava um felino lépido e desembaraçado que parecia conhecer todos os segredos da natureza, os animais e as plantas. Aqueles acontecimentos logo chamaram a atenção de seus familiares, principalmente porque ele estava se preparando para seguir a carreira na Marinha como aluno oficial. A situação foi se agravando e os chamados “ataques” sucediam-se com mais intensidade. A família recorreu então ao médico Dr. Epaminondas de Morais, também da família, diretor do Hospício de Vargem Grande e tio de Zélio. Após examina-lo e observa-lo durante vários dias, reencaminhou-o à família, dizendo que a loucura não se enquadrava em nada do que ele havia conhecido, ponderando ainda, que melhor seria encaminha-lo a um padre, pois o garoto mais parecia estar endemoninhado. Como acontecia com quase todas as famílias importantes na época, também havia entre eles um padre católico. Através desse sacerdote, tio de Zélio, foi realizado um exorcismo para livra-lo daqueles incômodos ataques. Entretanto, nem esse, nem os dois outros exorcismos realizados posteriormente, inclusive com a participação de outros sacerdotes católicos, conseguiram dar à família Morais o tão desejado sossego, pois as manifestações prosseguiram, apesar de tudo. 

Tempos depois, Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para a qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, surpreendentemente, Zélio levantou de seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação.  

"Sua mãe o levou a uma curandeira conhecida na região onde morava e que  incorporava o espírito de um Preto Velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade." (JUCA)


O jovem Zélio foi  encaminhado à recém fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho àquele em que residia a família Morais, ou seja, em São Gonçalo das Neves. A Federação era então presidida pelo Sr. José de Souza, chefe de um departamento na Marinha, chamado Toque Toque. O jovem Zélio foi conduzido em 14 de novembro de 1908 à presença do Sr. José de Souza. Estava em um daqueles chamados ataques, que nada mais eram que incorporações involuntárias De diferentes espíritos; e lá chegando, o Sr. José de Souza, médium vidente, interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio e foi aproximadamente este o diálogo ocorrido:

Sr. José – Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O espírito – Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
Sr. José – Você se identifica como um caboclo, mas eu vejo em você restos de vestes clericais.
O espírito – O que você vê em mim são os restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era
Gabriel Malagrida e, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição por haver previsto o
terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas, em minha última existência física, Deus concedeu-me o
privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
Sr. José – E qual é o seu nome?
O espírito – Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o Caboclo das 7 Encruzilhadas, pois
para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda, uma religião que harmonizará as
famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.


Prosseguindo, diante do Sr. José de Souza, disse ainda o Caboclo das Sete Encruzilhadas: “Amanhã, na
casa onde o meu aparelho mora, haverá uma mesa posta e toda e qualquer entidade que queira ou
precise se manifestar, independentemente daquilo que haja sido em vida, e todos serão ouvidos e nós
aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais, e ensinaremos àqueles que souberem menos, e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.”
Sr. José – E que nome darão a esta igreja?
O caboclo - Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o
filho querido, também serão amparados os que socorrerem da Umbanda.

A denominação de “Tenda” foi justificada assim pelo Caboclo: Igreja, Templo, Loja dão um aspecto de
superioridade enquanto que Tenda lembra uma casa humilde. Dessa forma, em São Gonçalo das Neves, vizinho a Niterói, do outro lado da Baía da Guanabara, na sala de jantar da família Morais, um grupo de curiosos kardecistas compareceram no dia 15 de novembro de 1908 para ver como seriam estas incorporações. Para eles indesejáveis ou injustificadas. O diálogo do Caboclo das 7 Encruzilhadas como passou a ser chamado, havia provocado muita especulação e alguns médiuns que haviam sido escorraçados das mesas kardecistas, por haverem incorporado caboclos, crianças ou preto-velhos, se solidarizaram com aquele garoto que parecia não estar compreendendo o que lhe acontecia e que de repente se via como líder de um grupo religioso, obra essa que deveria durar a sua vida toda e que só terminaria com a sua morte, mas que suas filhas Zélia e Zilméia prosseguem com o mesmo afã. A Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade existe até hoje. Seu patrono segue sendo o Caboclo das 7 Encruzilhadas. Seu endereço é Rua Dom Gerardo, nº 51- Rio de Janeiro – próximo ao cais das barcas de Niterói. 

Através de Zélio, a Umbanda "branca", tradicional, foi anunciada e é considerada a única religião genuinamente brasileira. Religião única, mas que respeita todas as outras como irmãs. afinal, é o que somos: Todos irmãos.


“ Só existe uma Fé, uma Verdade, um Amor e uma única Força que sustenta a todos ”
Caboclo das Sete Encruzilhadas


fonte de pesquisa: 


JUCA - Jornal de Umbanda Carismática 
Ano IV - Nº 39 - Novembro/2009

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